O Rodoanel

Durante o mandato do Governador Mario Covas tive a oportunidade de liderar os esforços da Secretaria de Transportes e, em particular da DERSA, na construção do primeiro trecho do Rodoanel Mario Covas, o trecho Oeste. A idéia da construção de uma estrada de alta velocidade, perimetral à região metropolitana, é antiga. O Governador Mario Covas soube entender a necessidade de uma obra deste porte; os argumentos para sua construção podem ser resumidos no que segue: a área da grande São Paulo ocupa apenas 0,19% do território brasileiro, mas neste pequeno espaço residem cerca de 10% da população brasileira. Apenas esses dois dados já permitem entender o congestionamento que provocam mas, há mais. Esses 10% da população brasileira são muito ativos e produzem mais de 17% do PIB (produto interno bruto) nacional. Esta produção representada por mercadorias e serviços, significa um tráfego enorme de caminhões. Em vista disso não devemos nos surpreender com os congestionamentos reportados diariamente pelos principais jornais televisivos. Devemos nos lembrar que a industria automobilística bate recordes de produção e que grande parte desta produção acaba nas mãos de consumidores da região metropolitana, dado que sua renda per capita é maior do que no restante do país. Deveremos nos surpreender se não houver congestionamento.

Há mais razões para a necessidade de uma estrada perimetral: a região metropolitana é origem e destino de muitas cargas. Essas tem que sair ou chegar até a grande mancha urbana. Há no entanto muitas cargas originárias no sul do país e que se destinam ao norte/nordeste, ou vice-versa. Esses dois fluxos passam pela região metropolitana, aumentando seu congestionamento, sem ter nenhuma razão para por aí transitar, a não ser a inexistência de outros caminhos.

Para iniciar a construção do Rodoanel os técnicos da DERSA e da Secretaria de Transportes sugeriram o trecho Oeste, por razões também facilmente compreensíveis. O trecho escolhido tem 32 km, pouco menos de 20% dos 174 km previstos para a volta toda. Nestes 32 km o trecho Oeste liga 5 das 10 rodovias que chegam a São Paulo – Regis Bittencourt, Raposo Tavares, Castelo Branco, Anhanguera e Bandeirantes – e que respondem por praticamente 50% de todo tráfego que chega e sai da região metropolitana. Não é necessário um cálculo complexo para verificar que construindo 20% da obra total é possível aliviar 50% do tráfego de chegada/partida, o que representa excelente relação custo/benefício. O Governo do Estado tem agora a responsabilidade de continuar esta obra construindo o trecho Sul, o segundo em importância uma vez que vai ligar o trecho Oeste já descrito, com Anchieta e Imigrantes, importantes ligações com o porto de Santos. Quando construímos o trecho Oeste já se pensava que o final daquele trecho e/ou os próximos seriam feitos por capital privado; aquilo que hoje estamos chamando PPP – Parcerias Publico Privadas. Nestes últimos anos as formas de PPP evoluíram bastante principalmente na Europa e são disponíveis hoje modos de interessar o capital privado sem necessidade, no caso do Rodoanel, de haver grandes investimentos públicos. Não se alegue portanto falta de recursos. É possível também demonstrar que a obra é ecologicamente correta, melhora o meio ambiente e reduz a poluição, alem de gerar empregos na região que mais necessita deles.

O problema da travessia de sul para norte no país, ou vice-versa, foi abordado pelo Governo Covas em dois outros instantes. Um, na concessão das rodovias: 3 delas administram rodovias que ligam Minas Gerais ao Paraná. Olhe um mapa de São Paulo e verá que as cidades de Eleutério, Itapira, Mogi-Mirim, Limeira, Piracicaba, Tietê, Tatuí, Itapetininga, Capão Bonito, Itapeva e Itararé, fazem um arco desde a fronteira com Minas Gerais até o estado do Paraná. Todas estas cidades estão servidas por concessionárias o que permite o tráfego em boas condições, ligando como afirmei o norte ao sul, sem sequer passar pela região metropolitana de Campinas. É o que eu chamei de Rodoanel Intermediário.

O segundo, quando solicitamos que o Governo Federal nos passasse a tarefa de fazer a concessão da BR-153 – no trecho de São Paulo – onde liga Icém no norte, a São José do Rio Preto, Lins, Marília e Ourinhos, no sul. Afinal de contas tínhamos implantado o programa de concessões com 12 licitações, poderíamos fazer mais uma. O Governo Federal da época entendeu que não deveria repassar para São Paulo uma rodovia federal. Até hoje não fez esta licitação. A importância desta rodovia para nós é que ela liga o norte do estado, mais desenvolvido, ao sul, mais pobre. Quando melhorada a rodovia será um grande fator de integração.

Escrito em 21/11/2004.