Balança eleitoral

Terminadas as eleições, é conveniente tentar fazer um balanço do que foram as eleições para podermos nos situar, verificar que erros foram cometidos e quais os acertos. Veremos que feito um balanço temos muito do que nos orgulharmos como brasileiros e reconhecermos que a prática democrática e a repetição de eleições a cada dois anos tem como resultado um amadurecimento da população em todas esferas.

No cenário nacional, os partidos que mais crescem foram PSDB e PT. No PT, observa-se que cresceu muito nacionalmente, embora tenha amargado derrotas importantes – São Paulo, Porto Alegre – para citar apenas duas. Foi o partido com maior número de votos (16,3 milhões) e alcançou 411 prefeituras. Talvez o fato mais significativo seja o deslocamento do poder de São Paulo. O partido deixa de ser um partido nitidamente paulista, para ser um Partido Nacional. Minas Gerais e Nordeste, onde o PT obteve vitórias importantes, vão postular maior poder junto a executiva nacional.

O PSDB também cresceu muito. Teve mais votos (15,7 Milhões) que o PMDB – partido do qual se separou. Também experimentou um crescimento pelo país inteiro, alcançou 870 prefeituras, embora tenha conseguido vitórias importantes em São Paulo, seu berço Natal. Conversando com um dos membros da executiva nacional, ouvir dele que o partido foi capaz dessa vez de reunir, no segundo turno, seus maiores líderes nacionais em apoio a diversos candidatos nacionais. Emerge do quadro nacional a estrela do governador Geraldo Alckmin como seu maior eleitor e natural candidato para enfrentar o presidente Lula, nas eleições de 2006.

Ainda no cenário nacional temos que registrar que os dois outros partidos grandes – PMDB e PFL – foram os grandes perdedores nesta eleição. Embora tenham respectivamente 1.053 e 786 prefeituras, perderam muitas, não ficaram com nenhuma importante. Sorte igual teve o PP que ficou com 548 prefeituras, sem mensagem clara, e ainda castigado pela imagem de ter o ex-prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, como seu presidente de honra. Entre os partidos médios, os grandes vencedores foram PDT e o PPS que, juntos, tiveram no primeiro turno 10,5 milhões de votos. Notícias posteriores ao segundo turno dão conta que ambos partidos estudam sua fusão o que lhes daria 606 prefeituras no país. O PTB ficou praticamente estagnado, vítima da interferência de seu presidente nacional nas disputas locais, o que sempre causa constrangimentos e perda de vereadores e de prefeituras.

No cenário estadual, o grande vencedor foi o PSDB e se eu governador Geraldo Alckmin. O partido conquistou um total de 195 prefeituras no Estado de São Paulo, entre elas “a joia da coroa”: a prefeitura de São Paulo. Com este resultado, o PSDB tem o segundo e terceiro cargos mais importantes do país. O PMDB ficou com 89 prefeituras, sendo que a vitória em Santos teve ajuda do governador no segundo turno. O PFL ficou com 74 prefeituras e seu resultado só não é pior pois elegeu o vice-prefeito em São Paulo. Em quarto lugar ficou o PT com 56 prefeituras. PPS e PDT repetiram em São Paulo bom resultado que tiveram a nível do país, com 37 e 26 prefeituras respectivamente. Se ocorrer de fato a fusão ficam com 63 prefeituras do estado. O PDT, em particular ganhou duas importantes cidades: Campinas e Bauru. O PP ficou com 26 prefeituras, oito a menos que conquistou em 2000. É necessário mencionar que para a análise acima usei muito o material colecionado e publicado por Carlos Marchi do jornal O Estado de São Paulo. 

Quando examinamos o panorama regional, verificamos que o PSDB não foi bem nem na região. Perdeu em americana, perdeu em Sumaré e perdeu em Campinas para mencionar apenas os dados mais próximos. Ganhou em Santa Bárbara, mas a vitória nesse município é mais resultado do prestígio pessoal do prefeito eleito José Maria do que de um esforço do partido no âmbito regional. Em americana, o grande vencedor foi o prefeito Eric Hetzl Jr., que derrotou tanto o PSDB como o PT, sem contar sequer com 30 segundos do tempo de TV de seu partido, o PDT. A análise dos votos pelas várias regiões da cidade mostra que houve foi vencedor – caso da maioria delas – ou um próximo segundo – no restante. O apoio do ex-prefeito de Americana, Waldemar Tebaldi, teve sua importância, mas certamente não foi o fator decisivo. Decisiva foi a maneira de conduzir a campanha, a personalidade do candidato e de seu vice. Ora, direis “o articulista é suspeito“. Declarou publicamente sua preferência. Isto também é verdade.

Texto publicado originalmente em 07/11/2004 no Jornal Todo Dia.