Não há acidentes – falta precaução

Abro o jornal O LIBERAL de 6/10, de minha cidade Americana, SP e me deparo na página 2 no “Painel do Leitor”:

“Ciclista morre após ser atropelado em rodovia”. Em qualquer lugar hoje você está sujeito a este tipo de situação. Não estou culpando o ciclista, pois sei das dificuldades de eles treinarem. Meus sentimentos para a família. Presenciei há uns três meses um acidente como esse na Rodovia dos Bandeirantes, chegando em São Paulo.

Esta situação se repetirá inúmeras vezes e não podemos chamá-la de acidente. É absoluta falta de precauções. Quando assumi o cargo de Secretário de Transportes do Governo Covas (julho/1997) ouvi de um coronel da Polícia Militar, poucos dias após minha posse, que nas estradas estaduais morriam em média duzentas e quarenta pessoas por mês. Duzentas e quarenta por mês! Isto equivale à queda de um Boeing todos os meses. Garanto que se isso acontecesse, alguém faria alguma coisa. Vamos fazer.

Em suma, o que se fez foi tratar cada morte como se trata um acidente com avião. Criamos uma equipe capaz de fazer uma análise completa sobre o local, um engenheiro analisava a condição da rodovia, um exame dos óbitos era realizado pela Polícia Militar, registro do óbito era confirmado com o Cartório Civil, todas informações eram devidamente armazenadas para eventual consulta. O evento passou a ser indicado num mapa detalhado do Estado. Logo começaram a aparecer “pontos críticos”, onde se repetiam os mesmos eventos, aprendemos que a maioria dos óbitos eram de pedestres atropelados quando tentavam cruzar uma rodovia. O contrato de concessões passou a ter uma cláusula que obrigava a concessionária a construir uma passarela quando o número de pedestres passava de determinado nível. Criamos o prêmio RODOVIA VIVA para ser entregue mensalmente ao Presidente da Concessionária com o melhor resultado do mês; análise feita pelo grupo no gabinete do Secretário, este sempre presente. A mensagem bem recebida por todos, era que o assunto – óbitos nas rodovias – era considerado importante pelo Governo.

Apesar do crescimento contínuo da frota de veículos, cinco anos depois, em 2002, a média de óbitos mensais havia caído continuamente para cento e oitenta. Lembro-me de ter visto noticiário na TV com o Presidente Johnson informando ter aprovado verba significativa para melhoria das rodovias dos EEUU. Para justificar tal medida informava ao publico que o número de mortes nas rodovias era maior do que o total de vitimas na guerra do Vietnam!

Como digo na página 209 de meu livro, “Apesar disso, rolou”, considero esse feito a maior contribuição que dei no exercício do cargo.

Temos hoje um enorme exército de novos prefeitos, eleitos ou reeleitos, caso um deles se interesse em reduzir óbitos em seu município é só copiar e implantar. Garanto que a prática se espalhará para benefício de todos. Importante que a Imprensa colabore criando uma informação periódica, digamos semanal, de quanto é o total de óbitos no ano.

NOTA FINAL – O livro de autoria de JESSIE SINGER indicado como um dos melhores do ano de 2022 não deixa por menos – THERE ARE NO ACCIDENTS.

Escrito em 09/10/2024.