Alegrias acadêmicas, parte 1

Escolha do tema

— Michael, meus parabéns, você foi aprovado no Exame Escrito nas 3 áreas: Otimização, Estatística e Processos Estocásticos. Não é comum isto acontecer na primeira tentativa. Agora você pode trabalhar na escolha de um tema para sua tese de doutorado.

— Obrigado Prof. Holloway. Devo muito à  sua orientação na escolha das disciplinas que frequentei. Seu apoio tem sido muito importante. Gostaria de trabalhar no tema que escolhi em seu curso: “Métodos Quantitativos e Políticas Públicas”. O fato de a revista Operations Research ter publicado nosso artigo1 com tanta rapidez impressionou meus colegas.

— Aquele tema não pode ser usado para sua tese pois o problema foi localizado e formulado por Donald Wehrung, como meu Research Assistant, ele inclusive foi nosso co-autor no artigo. Você precisa achar algo original e formular o tema que ira discutir.

— Está bem! Vou me juntar a outros aqui no Campus que estão vagando procurando um problema. (risos).

Dois meses mais tarde, mais ou menos, procurei o Professor Holloway novamente.

— Professor, eu não consegui achar, muito menos formular um problema que a Universidade aceitasse como proposta para um doutorado. Resolvi voltar para o Brasil. Tenho 3 filhos, minha esposa tem saudades, e … acho que o que eu queria aprender sobre o doutorado eu aprendi. Vim informá-lo que vou embora.

— O que é isto, você está desistindo muito cedo. Você foi um aluno excepcional. Soube inclusive que o professor Bonini  o convidou para ser seu “teaching assistant”. Tenha calma.

— É verdade, ele me pediu para dar aulas de reforço para os alunos do Mestrado que tinham mais dificuldade. Professor, não é uma questão de calma. Decidi voltar para casa.

— Neste caso você deve procurar o Professor Wilson que é o chefe desta área.

— O professor Wilson? Fiz um curso com ele em que na aula inicial ele disse: “A sala está mais cheia do que eu esperava. Este é um curso sem nenhuma utilidade prática.” 

— Numa das aulas perguntei a ele se tinha alguma sugestão de tema para eu me aprofundar. Ele me deu um artigo seu sobre “logrolling”. O assunto em  si é muito interessante, mas a Matemática era de um nível muito complicado para mim. Está bem vou procurá-lo.

— Como vai Zeitlin? Como posso ajudá-lo?

— Professor, vim procurá-lo como líder da área de Ciências da Decisão para informar que vou desistir, vou voltar para o Brasil.

— Por quê? O que aconteceu?

— Eu não tenho aptidão nem desejo para fazer uma tese como é requerido aqui. É tudo muito abstrato, muito teórico.

— E que tipo de tese você pensava fazer?

— Eu gostaria de ir para uma empresa ou repartição pública , conviver durante algum tempo com o pessoal que lá trabalha, ver que problemas tem e dedicar-me a desenvolver algo relacionado com estas dificuldades.

— Ah! Você quer fazer uma tese tipo Harvard. Lá onde fiz meu doutorado as teses são sempre deste tipo!

— É, mas eu estou em Stanford.

— Sim, mas vamos trabalhar juntos. Vou lhe dar 5 nomes de executivos de grandes empresas, todas situadas aqui perto, e você irá procurá-los em meu nome. OK!

Em seguida escreveu numa página o nome de 5 empresas, sendo uma um banco e os executivos que deveria procurar em cada empresa2

— Obrigado professor!

Duas semanas mais tarde procurei-o para dizer que o V.P. da Wheeler3 havia gostado do que eu lhe disse. Mencionei que necessitava de total liberdade para poder construir um modelo de suas decisões. Ele garantiu que não haveria problema de sigilos.

— Michael, não fale de modelos, fale de planejamento financeiro. Peça para poder voltar outras vezes, até você apresentar uma proposta definitiva do que fará e saber se eles se interessam.

G.B.4, V.P. de Desenvolvimento Corporativo não só aceitou que eu voltasse; mostrou-me uma sala com mesa, telefone e disse “tome posse” e venha todos os dias se quiser. O Prof. Wilson é muito amigo nosso, nós achamos que ele, um dia, vai ganhar o prêmio Nobel.

Algumas semanas depois apresentei uma ideia que consistia em estudar o processo de decisão deles que já haviam comprado 16 empresas em vários países e recusado outras tantas. Por quê?

— Você está propondo algo fantástico para nós. Vamos chamar seu projeto de “Post Mortem Analysis”.

Peço aos meus leitores que imaginem minha alegria. Não sei como descrever.

NOTAS:

(1) “The School Boundary problem under declining enrollment”. Operations Research, vol ____, 1974.
(2) Esta página com a grafia original do Prof. Wilson, está ainda comigo.
(3) Os nomes das empresas são fictícios.
(4) Os nomes dos executivos são fictícios.