Em busca do novo

Na semana que terminou, a Fundação Getúlio Vargas, por meio da Escola de Administração de Empresas e da Escola de Economia de São Paulo, realizou um evento para homenagear Luiz Carlos Bresser Pereira, que acaba de completar 70 anos. Foi uma festa muito bonita, com astral elevado, como é característico do homenageado. Vários professores, jornalistas e intelectuais testemunharam sobre a sua convivência com Bresser-Pereira.

Inicialmente Yoshiaki Nakano e Fernando Meirelles, como diretores das duas escolas traçaram rápidos perfis; ficamos sabendo que o professor Bresser, como chamamos na intimidade é o decano da EAESP, mais antigo professor em exercício no cargo, já que leciona há 46 anos ininterruptos. Hélio Jaguaribe e Luis Nassif, testemunharam, tanto sobre o interesse abrangente de Bresser Pereira como sobre sua coragem pessoal de não se recusar a remar contra a maré, quando sua observação da realidade assim o indica.

Maria Rita Loureiro e Fernando Luiz Abrucio, ambos professores da EAESP, chamaram atenção sobre sua faceta de construtor de instituições. Todos, sem exceção, elogiaram seu caráter e sua inesgotável generosidade. Não faltou o depoimento da família, feito por Rodrigo, seu primogênito, testemunhando que para uma atividade tão vasta e variada, só há uma receita, dada pelo próprio pai a seus filhos: “não tem moleza, trabalhe duro!” Rodrigo nos contou que quando ministro, seu pai chegava ao hotel ás 11 horas da noite, para jantar e ouvir os noticiários sobre o dia que acabava; às 7 horas da manhã seguinte estava nadando na piscina do hotel para manter a forma física.

Na ocasião da homenagem, a Editora FGV entregou ao público a obra coordenada por Yoshiaki Nakano, José Marcio Rego e Lílian Furquim: “Em busca do novo – O Brasil e o desenvolvimento na obra de Bresser-Pereira”. São mais de 600 páginas, agrupadas em seis partes: Visão e Método, Economia, Sociologia e Teoria Social, Ciência e Teoria Política, A Pessoa e uma Autobiografia intelectual do próprio homenageado. Em trinta artigos, seus autores tratam da obra acadêmica de Bresser-Pereira, seu amigo Abílio Diniz faz um depoimento sobre o papel importante que Bresser-Pereira teve no crescimento e no desenvolvimento do Pão de Açúcar, onde entrou quando ainda era apenas uma loja, e na participação que teve no início da década de 1990 na solução da crise que envolveu a família Diniz.

Aqui posso dar um testemunho pessoal. Em 1990/91 quando pensei em me candidatar ao cargo de diretor da EAESP/FGV, fiz sondagens junto ao corpo de professores, funcionários e, alunos. Constatei de maneira muito clara que a comunidade queria um diretor com perfil de executivo, e que o preferido era professor Bresser. Procurei-o e combinamos um almoço. Contei o resultado de minhas consultas e afirmei estar disposto a desistir e apoiar sua candidatura. Respondeu-me: “gostaria muito de ser diretor da escola, mas, no momento não posso. Estou envolvido na crise do Pão de Açúcar e sou o único que conversa com todos. Tenho que ajudá-los.” Este é o Bresser, deixando de lado ambições pessoais pra fazer o que acredita ser o correto e necessário.

Evelyn Levy, doutora em administração e ex-professora da FGV, nos descreve um “construtor de pessoas”. “Sua franqueza, seu otimismo, sua coragem são fontes permanentes de inspiração para os alunos e discípulos. Seu zelo pelo interesse público, pela democracia, pelo debate público, pelo desenvolvimento do país, pelo envolvimento ativo dos cidadãos para a criação de um Brasil estruturalmente diferente daquele que herdamos, produz, entre os que rodeiam, a renovação de compromissos com o tempo em que vivemos.”

Luiz Carlos Bresser-Pereira nasceu em São Paulo, no dia 30 de junho de 1934, estudou em escola pública e depois no Colégio São Luiz; aos 17 anos foi trabalhar no jornal “O Tempo” e depois no “Última Hora”. Inicialmente foi crítico de cinema e chegou a primeiro secretário da redação. Estudou direito no Largo São Francisco (USP) onde se graduou aos 21 anos.

Em 1958 prestou concurso para ser professor da EAESP/FGV, onde iniciou lecionando administração. Fez mestrado na Michigan State University e se especializou em Harvard. Concluiu seu doutorado em economia na USP em 1972. Publicou 23 livros e colaborou na organização de mais sete. Colaboradores informam que publicou mais de 300 artigos. Colaborou com Yoshiaki Nakano na criação da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, em 2003. É casado com Vera Cecília Prestes Motta desde 1957, com quem teve quatro filhos e um adotivo.

Texto publicado originalmente em 28/11/2004 no Jornal Todo Dia.